quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
Clarice Lispector

Desprendida

Estou bêbada e louca!
Vivo a tropeçar por entre as minhas correntes
E mesmo que tente,

não visto a camisa do mundo.
Prefiro a nudez dos meus sentidos, do meu sentir.
Egoísta? Eu?
Quero é mostrar as minhas vísceras,
Expulsar toda essa angústia
E gozar como se chora o recém-nascido
Ao enxergar tudo isso!

NÃO VENHA COM ESSA!

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Não existe razão
Não existe coração
São apenas duas palavrinhas
Para dizer que O CONVENIENTE é o certo
E minhas VONTADES precisam ser controladas!

E agora?
O que faço com Gregório?

Ninguém quer Mostrar

Estou perplexa com o caos
Fito com veracidade toda a situação
Não consigo vê nada!
Nada que compre a morbidade
Que mereça a indiferença
que me dê a normal sentençade
passar por cima - do caos

Movo aos latidos dos sons estridentes
seguro à força a minha testa
com a pouca hipocrisia que me resta
Ando...sem olhar para os lados
psiu! calado!
Não há nada de baixo do seu nariz
- assim me tenho falado -
Falo, falo, falo, falo
Fecha o olho do caudilho
Não é bom vê o fundo
Escondido pelo rabo

Pego o meu Jaez
Alinho-me a multidão
Ligo a televisão, café e doses de moralidade tartufos
- eh! Maconha não!
Mas quanto vale um pacotinho
No show dos meus vizinhos?
Bôra, pelo menos os moleques ganha uma...
Péra, meu pai não pode saber:
Pronto! fazer cursinho,
Trabalhar para o padrinho,
casa, carro, filhos
- Filhos! Eh, maconha não!
- Filhos? Eh, aborto não!
Mas foi de tão mal jeito
Nem gozei direito
Bôra, o corpo é meu, a escolha é minha
Sou decidida e indiferente a imposta soberania da vida
Péra, meu pai não pode saber:
Pronto! Clínica clandestina,
namoradinho de família
E te amo, te amo, te amo, te amo
enquanto dure...
Mas tá mole
Não tem conversível,
Não ganha em todos os fundos,
como acha que vai comprar o mundo?
- Eh! capitalismo não!
Mas eu não gostava mesmo
Ele nem se arrumava direito
Não parecia como na televisão.
Quero um amor de verdade
Não importa a compreensão
Amor não é caridade
mas eu dou vez ou outrana PRAÇA da PIEDADE
Correndo para o trabalho
Solto umas nicas no chão
Estou fazendo a minha parte
- Economia solidária -
igualzinho a televisão
- Eh! Mas capitalismo não, ne?!
Coitados, já são pretos
E tão feios,não conseguiriam mesmo emprego
A só-ciedade é mesmo racista.
- Eh! Mas racismo não!
Por isso que tenho uma amiga negra
É uma negra bonita
Só não gosto quando se veste muito colorida
E dança no meio da praça
Sem vergonha da nada.
Sou muito legal
Ela é minha amiga
- Eh, racismo não!
Agora tem negro até na televisão
Na minha sala, na faculdade
até na reunião
que fazem lá no salão.
Tá certo, somos todos misturados,
mas vou falar pra minha filha
Pra não dá a aquele preto da avendida
As coisas tem que ficar bem definidas
Cada um do seu lado
É drogado! E maconha não!
Não quero um neto da boca
Aberta para as falácias
Igual naquele jornal da tv
Senão... aborto sim.
Quero um neto médico.
Não de posto médico
que ganhe muito e me dê uma vida digna
Muito capital sim!

Estou perplexa com o caos
Fito com veracidade toda a situação
Lençois branco cobrindo a podridão
Inércia dos anormais
Inconsciencia dos normais
Nada que mereça atenção
Tudo em perfeita comodidade,harmonia e união
Afinal, somos todos irmãos...

Disfarce

Vejo tudo opaco
As minhas mãos continuam geladas
Estou sentada, escrevendo.
Com a mão na cabeça lembro daqueles momentos...

Escuto o barulho das pessoas vivendo.

Fecho os olhos e lembro novamente...
Vejo agora claramente
A dor rasgando meus tímpanos
Desenhando-se nessa melodia que escuto para esquecer
Aquelas coisas inventadas para me ver sofrer

De repente, vozes surgem fazendo-me despertar.

É hora de sorrir
As pessoas chegaram...

Medo

Estou com medo
Do amor que desanca;
Da dor que rasgou minha estima;
Da lagrima sem origem;
Do nada que escrevo
Para justificar o eu e o mundo imundo.

Os meus olhos lacrimejam
É o pecado da razão
O mesmo que fez Eva e Adão se libertarem
O mesmo que acoroçoou Caim e Abel a divergirem
- Seria eu então Napoleão? -
São tantas coisas a serem conquistadas
E o outro – o que faço com os outros?
Se o outro eu, se perdeu no egocentrismo.
E em tantos ismo destruidores de valores,
Construtores de circunscrição.

Estou com medo
Da vida, da morte que me mata aos poucos;
Que mata a todos e ninguém a ver.
De todos que se dizem seguros;
Dos padrões, exemplos e ideologias.

Os meus ouvidos estão tapados
Mas escuto os gritos do mundo
A cabeça dói, está muito alto...
Tiros, ventos, chicotes, água!
- Seria o final cristão da nossa história encantada? –
Parece-me mais um novo capítulo do conto “cada um por si”.
Deus por todos os lados.
Estou morrendo com o imediatismo – mais um ismo contido;
Com a incapacidade de nos reconhecermos responsáveis
Por esse lugar chamado mundo.
Vida vulgo morte

A vida vem e vai
Vira vulgo morte
Na via das vozes velozes
Que correm e caem
Na calçada calada
Com cara de cristo
Que apara os tombos,
Mas não os trancos
Dos trombadinhas
Tontos, tantos, poucos...
Que vida! Vive
Sobrevive, sob morte
Sobre chão, sobre fome
Sob vida
Subvida