domingo, 15 de fevereiro de 2009





As visões ainda são limitadas ao conhecimento dos que acham que lêem os corpos e os fatos meramentes concretos.
Eu danço quando o corpo está cheio e a alma vazia

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Poeta e o cemitério

"(...)

A amada sepultado
matou todas as flores
de sua poesia, erguendo
o seu trono de melancolia".


Davi Nunes

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Solos de saudades


21:49h, o fundo entrara nos meus sons! Sentia cada corda vibrando, em sua simplicidade e harmonia, como se quisesse tocar nos espaços vagos, todavia, surdos e ensurdecidos pelos gritos e falácias de outros corpos. Mesmo sabendo da surdez que me amparava naquele chão daquela noite cinzenta, Dilermando Reis continuava a tocar, estendendo o tempo e a distancia dos deixados espaços recentes. Pensei em desligá-lo, findar com aquela insistência ingrata dos que conseguem transmitir angustias, medos, amores, poesia através de palavras, sons. Mas o deixei continuar... Tentar tocar nos vazios que preenchiam minhas decisões e certezas eremitas.
22:33h, as cordas não conseguiam alcançar minha percepção. Somente o silêncio das vozes e corpos distantes de fora da minha casa e, o relógio de ponto pontuando cada segundo que se passava. Esse silêncio ambíguo aglutinou-se no estalido que despontara de minhas entranhas formando o que a minha percepção exterior já não conseguia escutar: era eu, em forma de sons produzidos por cordas do violão de Dilermando Reis.
22:45h, os espaços vagos produziam repetidamente um som antes imperceptível, antes inadaptável ao meu corpo. Fiquei desesperada ao notar que nem precisava escutar para sentir aquele som, pois ele se transformara em mim. Os espaços foram se dilatando, cantando, cantando, tocando na corda, falando, gritando, gemendo, sentindo cada vez mais alto, mais perto de mim; dentro de minhas decisões e certezas não mais eremitas. Não queria escutar, mas aquele solo de saudades saia e entrava harmonicamente nos espaços que se alargavam ininterruptamente...

sábado, 17 de janeiro de 2009


A busca pela igualdade é a forma mais desigual de tentar conviver. O uno é o resultado das diferenças e desequilíbrios construídos em cada parte, cada povoado, tribo, nação, estado; é a montagem de diferenças que se encaixam conflitantemente ou harmonicamente para formar um todo vivível para todos. Lutar pela igualdade é renunciar a minha diferença diante dos padrões estabelecidos e dos estereótipos firmados a partir de escalas de valores, ideologias unilaterais e cosmovisões privilegiadas pelo poder ter, ser e produzir. Não quero direitos iguais. Quero o justo para construir um uno melhor para todos!
A imagem é do São gonçalo do retiro, vista para BR 324.

E eu, passo derrubando tudo e tentando escandalizar o óbvio...
Escandalizar a mim!
É que eu amo...

Carla Dias

"A cultura é tudo que o homem inventou para tornar o mundo vivível e a morte afrontável"
Aimé Césaire
Quando eu tirei essa foto pensei no significado que o homem dá aos seus símbolos e a sua forma de prestigiar o belo. O elevador lacerda ao anoitecer não precisa de nenhum fotógrafo para transformar a imagem: é fato e concreto!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

365 dias...

Foi tanto querer em tão pouco tempo que não coube no tempo viver tudo que planejamos a tempo;
Foi tanto sentir em corpos pequenos perdidos dos sentidos sentido ao extremo;
São tantas as lacunas em tantos quereres deixadas por sentidos presos ao tempo passado, passando nos momentos em que não sobrou nenhum tempo;
São tantas as marcas marcando a história contada pelo tempo que desmarcado pelo querer ser, ter, poder...
Serão tempos novos envelhecidos na adega dos quereres e sentidos que inventamos para saborear a vida.
Pare!
Tempo!
Pare o tempo,
Olhe o vento...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Beleza


Essa aí é a minha prima¨de 02 anos deitada na minha cama. A beleza dos seus traços me encanta, me seduz e me revela o que os padrões e estereotipos não consegue revelar. No fenótipo dela predomina a beleza presente no lado matriarcal da família. Conta a minha vó, que quando moça, ela e as amigas saia por Paramirim chamando os rapazes para sambar. O samba está presente em nossa cosmovisão familiar, sobretudo, porque marca e destaca esses traços aluarados que caracteriza a nossa família e o nosso jeito de se fazer estar.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

...

A ignorância e a loucura são extremos, tudo que há entre elas é mediocridade!

Deixa Sair...

Tudo que você
não sua,
não gasta,
não libera,
não respira;
acumula.

Tudo que você
não chora,
não perdoa,
não esquece,
não cresce;
entope.

Tudo que você
não ri,
não abraça,
não beija,
não ama;
apodrece.

Tudo que você
não muda,
não troca,
não avalia,
não retifica;
empaca.

Tudo que você
equilibra,
aprende,
revê,
expande;
liberta.

Voz

O timbre amortece a voz áspera
Encanta os olhares perdidos
Canta para não perder os sentidos
Sentido pelo querer ter: você


Seu timbre encosta no eu
Inventado pelo seu
Encanto, canto
Prosa em verso
Avesso atravessado
Pelo nosso amor concreto
Apontado, apronto, afronto
Aos olhos dos mortais


Imortal – as cores contadas por você
Conto por conto
Ponto cruzado
Emaranhado do bem querer
Hoje
Dia após dia
A fôrma forma a letra
Por letra – palavra
Nossa história
Paciência...

Escuto seu timbre batendo no meu peito...

Tragada




Cheia de Graça


Traga esses olhos, mistérios.
Ímpeto doce, disfarce sério
Da arte circense de enxergar
Como fêmea ao procriar

Não esqueça das mãos
Deslize e perfeição
O tato a mando da imaginação
Que não se pode revelar

Traga também seu corpo
Inocente e perigoso

Provoque e evoque
Os raios, queimando-a

E por fim, Mulher cheia de graça,
Traga consigo fantasia,
Poesia, loucura
Alma pura, suja
Equilibrando os desajustes imperfeitos
Que a torna perfeita:

Mulher!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

MANGUEIRA DE PACHO, O ADVOGADO DE AÇO.

Esse bendito universo da ficção e realidade é algo que a muito me aborrece. É certo que sou um aborrecido de carteirinha. Sou pior, às vezes, que seu Lunga. Seu Lunga é um sujeito, aquele que xinga a tudo e a todos lá nas bandas do Ceará. Xinga até os seus clientes. Fez sucesso e saiu no Fantástico. Dr.Mangueira de Pacho, o advogado de aço, ainda não ganhou a manchete por seus dotes, mas é questão de tempo. Por ora, fico eu, como sempre, de mentiroso. Normal, já me acostumei e confesso, até gosto.

Mangueira de Pacho é um advogado matuto e astuto que leva as pelegas a seu modo lá pelas bandas do Estado do Balargipe. Se alguém não conhece esse estado é problema não meu, mas da falta de conhecimento geográfico de vocês. Volte ao banco escolar!

Lá nesse Estado milita o nosso causídico. Em seu cartão de visita, bem do jeito dos cordelistas de lá ele cunhou: “Mangueira de Pacho – Advogado: Se você não tiver direito, eu acho”. É assim que Dr.Mangueira de Pacho com seu branco penacho, faz das leis um esculacho, da justiça seu capacho.

Diz-se por ilógico ser tudo obra da oposição, que isso é ficção! Penacho Branco, como os correligionários lhe chamam, não tem tanta capacidade assim. Ter capacidade pra mais de metro, eles admitem. Penacho Branco é danado, é tinhoso. Ele consegue quase tudo. Seu limite ainda é o quase, mas logo, logo tira essa palavrinha da sua frente. Logo Penacho Branco dirá: “EU CONSIGO TUDO. O MUNDO É MEU!!!”. Do jeito do gibi ou melhor: bem do jeito de Cordel que é o jeito de contar as aventuras do pessoal do Balargipe. Pedro Malazartes, Cancão de Fogo terá em breve uma incomoda companhia.
Aguarde, Penacho está chegando!

Contam-se algumas do Dr.Mangueira de Pacho.

- Um empresário lesado foi até o delegado dar queixa que um antigo empregado seu andava lhe roubando, dando umas tungas na grana, desviando materiais, falsificando umas notinhas fiscais. Coisa pouca, oras contava ele vantagens a seus amigos. Onde já se viu, o cara tinha muita grana e não queria ser roubado. Que onda esse patrão - sorria e fazia rir.
A queixa do patrão nas mãos da tungueira virou contra o próprio patrão. É ele hoje que responde a processo. O astuto Penacho conseguiu provar que foi o menino que mordeu o pobrezinho do Pitbull que pacificamente passeava pelo jardim. Até agora os pais se escabelam enquanto Penacho ri.
Penacho se orgulha das suas amizades. Penacho foi longe na política. Se não conseguiu grandes votos pois sua clientela era escassa, quem tinha bom direito não procurava logicamente Dr.Mangueira de Pacho. Queimava filme. Penacho tinha adversários e gente de olho nas causas de Penacho. Os votos de uma certa suplência lhe valeu um cargo de nada mais nada menos que SECRETARIO DE JUSTIÇA DO ESTADO DO BALARGIPE. Penacho exerceu o cargo com denodo. Foi ágil eficiente, principalmente em prestar pequenos favores a quem ele muito iria precisar quando descesse de tão respeitado cargo. Pechaco Branco tratou de transferir ou interferir para boas comarcas os amigos e amigas. As amigas mais ainda. Penacho é galanteador, vivaz, loquaz. Uma boa cantada de Penacho é coisa que ninguém melhor faz. Isso aí já é puro cordel, seu menestrel!!!
Penacho Branco pegou um cara endividado, todo enrolado, com titulo protestado, coitado.
Aí apareceu Dr.Mangueira de Pacho. Deixa comigo que direito eu acho. O juiz é meu amigo vou lá com ele e pego o despacho.
- Dito e feito. O protesto foi sustado, sem garantia, sem deposito, sem prova de pagamento. O direito lá em Alargipe é do jeito que Dr.Penacho quer. Lá esse negócio de regras básicas, de princípio elementar, essas coisas. Isso é coisa para causídicos. Eu sou Dr.Mangueira de Pacho, o advogado de Aço. Se não tiver direito eu acho.
O credor está respondendo processo por danos morais e ta falado. Bem feito! Quem mandou se meter com Penacho.
-Dos sertões de Balargipe seu Olegário Boaideiro traz um causo:
-Fazendeiro dono de boas cabeças de gado deixou aos cuidados do capataz. Cuidava ele de outras terras de mais valia. Aquela rendia, mas era pouco para os gatos do patrão. Todo mês o capataz e sua mulher lhe mandavam um quinhão. A mulher do capataz era amiga da mulher do fazendeiro desde a infância. O fazendeiro tinha achado aquela mulher numa favela. Como era bonita, falante e usava vestido logo de igreja o fazendeiro que tinha gado e achava que chifre era só pra gado, nunca desconfiou que sua mulher e a amiga fosse flor que se cheirasse . O capataz, marido da amiga era um conformado. Sabia das mutretas e outras tetas de sua dama. A loirinha ou gazinha como por lá se chama tinha uma boca levemente torta, quase imperceptível. Coisa pouca. Não quisesse ninguém notava. A boca pequena os maledicentes, só os maledicentes a alcunharam de P.da Boca torta. O “P” era pra não gerar processo de calunia. Dona P.da Boca Torta era amiga e outra coisinha mais de Dr.Penacho e o capataz sabiam. Como ficava a cargo de receber pelo gado e mandar a paga ao patrão. O Marido recebia seu quinhão e nada dizia. Perder a boquinha e perder a Boquinha Torta era pedi pra pegar no batente e isso jamais. Nunquinha!
O Fazendeiro depois de longo adormecer acabou por descobrir o desvio de gado a remessa para as outras contas até mesmo para contas dos amantes de Cabelinho de fogo. Cabelinho de Fogo era a alcunha da mulher do Fazendeiro, agora com o adereço emprestado de seu gado. Tudo provado e aprovado pela trupe. O Fazendeiro foi lá na fazenda com adereço e tudo e quebrou porteira, destruiu parte da sede pegou os documentos do escritório pra conferir. Vacina vencida foi coisa menor. Tinha relatório que boi pariu. Porque não?
Pobre sujeito. Não avisaram a ele que o Dr.Mangueira de Aço tinha a procuração da senhora P.da Boca Torta. Boca Torta não tinha dinheiro vivo mas conta com a proteção irrestrita de Cabelinho de Fogo. Cabelinho de fogo é fogo mesmo. Literalmente!! Com Cabelinho de Fogo não se brinca. É quinem os versos de Vandré. Por gado a gente marca/Tange Fere engorda e mata/Mas com gente é diferente. Menos pra Cabelinho de Fogo. Gente pra cabelinho é algo também indiferente.
Resumo da ópera ou do gado. O homem! Seu moço! Está impedido de voltar a sua fazenda. Penacho Branco conseguiu um negócio duma Lei chamada de Interdito Proibitório ou proibitório. Acho que é termina com Touro mesmo, já a que a questão é com Fazenda só pode ser isso mesmo INTERDITO PROIBE O TOURO.
É pra ela não entrar num sabe. Direito de entrar em sua própria terra só quando o Dr,Mangueira de Pacho, o advogado de aço só vale se ele não tiver na questão.
Tem gente chamando o pobre do Olegário Fazendeiro de cuiudeiro. Isso só pode ser
Olegário ficou com cara de otário e nem o resto contou mais. Quem iria acreditar, ainda mais dando o causo como de verdade. Ora isso é lá verdade seu moço. Num vê que é caso de Olegário, o otário.
-O caso.
O dito fazendeiro procurou justiça onde ele tinha a escritura. Era de outro estado dái então foi expedida uma tar de carta Precatória ou pegatória. Acho que pra gado é carta
pegatoria. De pegar gado é isso.
O fazendeiro mandou junto o seu filho jovem advogado que pensava que sabia das coisas junto com o oficial cumprir a ordem de buscar o gado.tinha ordem de arrombar a porteira em caso de P.da Boca Torta, orientada por Cabelinho de Fogo restirir em abrir a porteira de pegar o gado. Dito e feito. Boca Torta chamou a Policia, a de choque e botou o oficial pra correr. A estória é de doer seu moço, mas aconteceu. Ainda hoje se procura o oficial que dizem os outros letrados é o juiz andando. Se é o juiz andando então eu não minto: Botou o juiz pra correr.Coisa simples pra Dr.Penacho Branco. Ainda hoje se espera a ordem ser cumprida.Penacho não tem medo de nada. Talvez uma notinha no jornal. As coisas ainda devem preocupar Penacho. Essa imprensa!! Maldita imprensa. Morte a esses jornalistas comunistas!


Renato Farias

Um pouquinho de Renato Farias: http://www.motoronline.com.br/colunas/cron01.htm

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Cansei...



Estou com medo das pessoas! Muito...
Mas percebi que hoje tenho que me defender
dos ventos que passam por aí

terça-feira, 15 de julho de 2008

Levianos

Levianos, isso é o que são!
Eu não admito que me desconfigure com verdades que não são minhas
Não admito que invadam o MEU MUNDO e o destrua com verdades que não são minhas
Não admito que me amem com verdades que não são minhas
Não admito que incenem papéis utilizando os meus sentidos
Não admito que sintam de forma superficial o que eu sinto com as minhas vísceras
Não admito que criem Anas sobre o meu Ana
Não admito as mentiras deslavadas para incumbir atos libertinos
Aliás, eu não admito MENTIRAS!
Não admito todo esse fedor, já que podemos lavar tudo e deixar limpo!
Não admito que peguem o meu coração e coloquem marca-passo...
Não admito que não me expliquem nos mínimos detalhes
Não admito entrelinhas!
Não admito a metade quando posso o inteiro
Não faço nada pela metade!
Não admito que troquem "acreditar" por ingenuidade
Não admito que falem por trás o que podem falar comigo
Não admito que tomem o que me pertence - a liberdade de ser quem eu sou!
Não admito que ultrapassem o limiar dos meus sonhos e os reinventem
Não admito a fuga, a esquiva, os jeitos, a falta de compromisso com a "MINHA VIDA"
Não admito que tratem com désdem o meu exagero
Levianos, não os admito!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Hoje

Hoje descobrir que nem todos os finais são felizes; que meus dois nomes não facilitam a minha vida; que existem pessoas que não devem ser queridas, mesmo quando sentidas. Hoje eu descobrir que existe mentira em verdades não ditas; que os racistas não são seres hipocritas, são mediocres; que as religiões são um refúgio necessário. Vi até flores dá no asfalto dentro dos olhos de quem eu não gostava muito (eh, as aparências enganam mesmo); vi todos - até eu - olhando a vida indo e vindo em uma dinamica perfeita de conveniências; Vi vários botões de cravos na mão de minha mãe, todos para mim! Ouvi tiros entrando em crianças bem na porta de minha casa; ouvi corpos no chão e todos andando; ouvi o barulho do trio da Festa de Labatut, ehh; ouvi os gritos de fome na festa de Labatut, ahh; ouvi ofensas da boca do amor do meu amor; ouvi sentenças de morte de quem nunca sentiu e sentir literalmente o "cheiro do ralo". Cherei, mas cherei com bastante cuidado ao sair de minha casa. Voltei e acendi um incenso, uhm; Cherei o incenso; sair, mas ainda cheirava o medo de vê o norte; cheirei o asco dos que me olhavam; cheirei a dor disfarçada; cheirei os risinhos de lado e o "tudo bem" de quem nem pensava; cheirei as vontades que preferem se esconder para social ser; cheirei a angustia de não saber o que fazer, mas fazer; cheirei a inércia, o odor forte da indiferença e comecei a bailar, a dançar para a realidade que não pertenço, mas preciso, dançar e dancei; dancei para os brancos e os embranquecidos; dancei para ciência que não me dava resistência; dancei para vários que não sabiam dançar pelas curvas do meu sonhar; dancei nos palcos sem vida, só para reviver almas mortas; dancei com a liberdade, a esperança e a verdade - pensei que elas continuariam comigo o resto do dia, mas hoje apenas dancei por dançar

Aborto Puérpero

Mulher puérpera
Pari uma nota negra
Dó, ré, minha nova vida
Compondo uma batida perfeita.
Dum Dum
Escuto seu primeiro grito
Gemido, cólicas
Sua boca sugando meu leite
Meu líquido construindo sua face
Disfarçando as consequências
Do tempo que esperei para lhe encontrar
Griô, preto do meu estado de puerpério.
Dono de minhas contrações
Estágio final da estrela
Que brilha no nosso mundo encantado
Há uns 80 anos-luz

quinta-feira, 3 de julho de 2008

“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!
E Tempo para trabalhar...
“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!
E Tempo para comer...
“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!
E Tempo para beber...
“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!
E Tempo para viver...”

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
Clarice Lispector

Desprendida

Estou bêbada e louca!
Vivo a tropeçar por entre as minhas correntes
E mesmo que tente,

não visto a camisa do mundo.
Prefiro a nudez dos meus sentidos, do meu sentir.
Egoísta? Eu?
Quero é mostrar as minhas vísceras,
Expulsar toda essa angústia
E gozar como se chora o recém-nascido
Ao enxergar tudo isso!

NÃO VENHA COM ESSA!

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Não existe razão
Não existe coração
São apenas duas palavrinhas
Para dizer que O CONVENIENTE é o certo
E minhas VONTADES precisam ser controladas!

E agora?
O que faço com Gregório?

Ninguém quer Mostrar

Estou perplexa com o caos
Fito com veracidade toda a situação
Não consigo vê nada!
Nada que compre a morbidade
Que mereça a indiferença
que me dê a normal sentençade
passar por cima - do caos

Movo aos latidos dos sons estridentes
seguro à força a minha testa
com a pouca hipocrisia que me resta
Ando...sem olhar para os lados
psiu! calado!
Não há nada de baixo do seu nariz
- assim me tenho falado -
Falo, falo, falo, falo
Fecha o olho do caudilho
Não é bom vê o fundo
Escondido pelo rabo

Pego o meu Jaez
Alinho-me a multidão
Ligo a televisão, café e doses de moralidade tartufos
- eh! Maconha não!
Mas quanto vale um pacotinho
No show dos meus vizinhos?
Bôra, pelo menos os moleques ganha uma...
Péra, meu pai não pode saber:
Pronto! fazer cursinho,
Trabalhar para o padrinho,
casa, carro, filhos
- Filhos! Eh, maconha não!
- Filhos? Eh, aborto não!
Mas foi de tão mal jeito
Nem gozei direito
Bôra, o corpo é meu, a escolha é minha
Sou decidida e indiferente a imposta soberania da vida
Péra, meu pai não pode saber:
Pronto! Clínica clandestina,
namoradinho de família
E te amo, te amo, te amo, te amo
enquanto dure...
Mas tá mole
Não tem conversível,
Não ganha em todos os fundos,
como acha que vai comprar o mundo?
- Eh! capitalismo não!
Mas eu não gostava mesmo
Ele nem se arrumava direito
Não parecia como na televisão.
Quero um amor de verdade
Não importa a compreensão
Amor não é caridade
mas eu dou vez ou outrana PRAÇA da PIEDADE
Correndo para o trabalho
Solto umas nicas no chão
Estou fazendo a minha parte
- Economia solidária -
igualzinho a televisão
- Eh! Mas capitalismo não, ne?!
Coitados, já são pretos
E tão feios,não conseguiriam mesmo emprego
A só-ciedade é mesmo racista.
- Eh! Mas racismo não!
Por isso que tenho uma amiga negra
É uma negra bonita
Só não gosto quando se veste muito colorida
E dança no meio da praça
Sem vergonha da nada.
Sou muito legal
Ela é minha amiga
- Eh, racismo não!
Agora tem negro até na televisão
Na minha sala, na faculdade
até na reunião
que fazem lá no salão.
Tá certo, somos todos misturados,
mas vou falar pra minha filha
Pra não dá a aquele preto da avendida
As coisas tem que ficar bem definidas
Cada um do seu lado
É drogado! E maconha não!
Não quero um neto da boca
Aberta para as falácias
Igual naquele jornal da tv
Senão... aborto sim.
Quero um neto médico.
Não de posto médico
que ganhe muito e me dê uma vida digna
Muito capital sim!

Estou perplexa com o caos
Fito com veracidade toda a situação
Lençois branco cobrindo a podridão
Inércia dos anormais
Inconsciencia dos normais
Nada que mereça atenção
Tudo em perfeita comodidade,harmonia e união
Afinal, somos todos irmãos...

Disfarce

Vejo tudo opaco
As minhas mãos continuam geladas
Estou sentada, escrevendo.
Com a mão na cabeça lembro daqueles momentos...

Escuto o barulho das pessoas vivendo.

Fecho os olhos e lembro novamente...
Vejo agora claramente
A dor rasgando meus tímpanos
Desenhando-se nessa melodia que escuto para esquecer
Aquelas coisas inventadas para me ver sofrer

De repente, vozes surgem fazendo-me despertar.

É hora de sorrir
As pessoas chegaram...

Medo

Estou com medo
Do amor que desanca;
Da dor que rasgou minha estima;
Da lagrima sem origem;
Do nada que escrevo
Para justificar o eu e o mundo imundo.

Os meus olhos lacrimejam
É o pecado da razão
O mesmo que fez Eva e Adão se libertarem
O mesmo que acoroçoou Caim e Abel a divergirem
- Seria eu então Napoleão? -
São tantas coisas a serem conquistadas
E o outro – o que faço com os outros?
Se o outro eu, se perdeu no egocentrismo.
E em tantos ismo destruidores de valores,
Construtores de circunscrição.

Estou com medo
Da vida, da morte que me mata aos poucos;
Que mata a todos e ninguém a ver.
De todos que se dizem seguros;
Dos padrões, exemplos e ideologias.

Os meus ouvidos estão tapados
Mas escuto os gritos do mundo
A cabeça dói, está muito alto...
Tiros, ventos, chicotes, água!
- Seria o final cristão da nossa história encantada? –
Parece-me mais um novo capítulo do conto “cada um por si”.
Deus por todos os lados.
Estou morrendo com o imediatismo – mais um ismo contido;
Com a incapacidade de nos reconhecermos responsáveis
Por esse lugar chamado mundo.
Vida vulgo morte

A vida vem e vai
Vira vulgo morte
Na via das vozes velozes
Que correm e caem
Na calçada calada
Com cara de cristo
Que apara os tombos,
Mas não os trancos
Dos trombadinhas
Tontos, tantos, poucos...
Que vida! Vive
Sobrevive, sob morte
Sobre chão, sobre fome
Sob vida
Subvida

domingo, 22 de junho de 2008

Espelho

Eu, Liz Espelho, confesso-me verdadeira e minuciosamente perfeita. Perfeita sim! Porque toda imperfeição que vejo, me torna a mais bela garota de Jobim diante de mim: o espelho.
Eu mesma, o espelho. Sou a que coletou toda expressão facial de Captu, porque também sou Captu! Se duvidares, digo mais, sou tudo o que se pode vê e nada além do olhar. Eu sou essa mesmo, toda imagem e semelhança que se pode criar, aceitar ou ignorar – não há nada de surpresa e de inesperado.
Ah! Confesso-me com toda satisfação diante de todos, para que possam me ver através de mim mesma. Olhem para mim...Olhem para o espelho! Então verás que sou eu e todos àqueles com braços, pernas, olhos, me verás perfeitinha...A qual não se sente pena e que vale a pena ser você, ser ele, ser todos, ser seu espelho...Sou igualzinha o que o olhar vê, sem tirar, nem pôr. E mesmo que mudem o ângulo, continuarei sendo eu – o espelho: impenetrável, resistente, frágil, misterioso, aparente.
Mas como espelho, sou mais uma injustiçada. Exposta a pedradas quando estou embaçada acabo mostrando o que o olhar não quer ver, e aí não posso ser mais ele, você, todos...Só posso ser eu mesma – o espelho.

Explicações

Estou agora bebendo, bebo ansiosa para ouvir os gritos e ingnorar-los como todos fazem... Não vejo nada mesmo, estou vivendo, não é? Quem vive não vê! È preciso não vê para continuar vendo a vida ordinária e vivendo-a. Como é bom beber, faz-me feliz. Percebo que realizo, construo e dissimulo as imagens que não posso/quero vê-las. Veneno, dei-me um pouco Solano, Florbela, Augusto, Meu Amor... Preciso das consequencias desses goles de palavras!